É um dos temas de conversa, nas paragens, nos cafés, por onde quer que se passe fardado. As recentes Greves da Carris deram que falar e já estão mais marcadas para Julho. E porquê? Porque os trabalhadores da Carris, nomeadamente os Motoristas e Guarda-freios que são o motor e o rosto da empresa, são igualmente a peça com maior desgaste na engrenagem da empresa de transportes públicos da cidade, e são precisamente aqueles que têm piores condições actualmente na empresa.
Ao contrário dos restantes sectores da Carris, aqueles que diariamente fazem mover a cidade e que transportam vidas, trabalham 40 horas semanais ao contrário dos restantes colegas que atingem apenas as 35 horas por semana. Cansados desta diferenciação e desvalorização, perante um trabalho cada vez mais difícil e desgastante dadas as condicionantes de um trânsito completamente desregulado, um boom turístico, e horários impraticáveis, este grupo de trabalhadores uniram-se e criaram o "Movimento" através das redes sociais.
A inclusão do tempo das deslocações das suas rendições quando começam e terminam em pontos diferentes, é outra das causas que uniu em pouco tempo mais de 700 trabalhadores do tráfego que lidam diariamente com milhares de pessoas. Exigimos igualmente uma actualização salarial que acompanhe a inflacção e que faça recuperar o poder de compra perdido nos últimos anos.
Mas nem só de salários é feita a reivindicação. A segurança de quem transportam está também em cima da mesa, assim como a falta de condições como é o caso da ausência de WC's junto dos terminais, sobretudo numa altura em que a profissão é já efectuada por muitos elementos do sexo feminino. Recorde-se que quem conduz os autocarros e eléctricos da Carris são seres humanos que antes de serem motoristas ou guarda-freios são também eles e elas pessoas.
Neste sentido e perante a passividade das organizações sindicais, uniram-se para exigir destas, mais respeito pelos seus associados e pela real defesa dos interesses dos trabalhadores, que é essa a razão da sua existência. Das quatro ORT's e até ao momento, apenas uma parece estar no mesmo caminho destes trabalhadores, as restantes nada dizem. Os trabalhadores do movimento estão cansados de serem figurantes nesta novela que parece mexicana, e querem passar a ser personagens principais das negociações e por isso exigem aos sindicatos que sejam feitos plenários para lhes dar a conhecer o que está a ser negociado em cima da mesa, e não apenas terem conhecimento dos acordos feitos já depois de assinados.
No último plenário realizado na Praça do Município, frente à Câmara Municipal de Lisboa, entidade que gere a Carris, os trabalhadores votaram novas formas de luta caso não sejam atendidos os seus pedidos por parte da Administração. Para dia 11 de Julho está convocada uma greve de 24 horas e na semana seguinte a possibilidade de se realizar durante uma semana com greve às 2 horas iniciais e 2 horas finais de cada serviço. Entretanto há reuniões agendadas entre o Conselho de Administração e algumas ORT's.
Os trabalhadores estão cientes do transtorno que podem causar na mobilidade da cidade, mas estão igualmente cientes que não podem ser apenas importantes em eventos como o Rock in Rio, as Jornadas Mundiais da Juventude e as constantes maratonas.