Tirou a fotografia fardado para mais tarde recordar e ser recordado, para relembrar os exercícios que teve de fazer enquanto cumpriu serviço, mas provavelmente houve alguém que teve más recordações suas ou que simplesmente o esqueceu e hoje este "soldado" sofreu talvez muito mais do que sofreu na Força Aérea.
Encontrei-o no chão do autocarro enquanto fazia a revista ao carro após mais uma viagem na carreira 701. Lá estava ele com um olhar, diria eu, já sofredor depois de tanta pisadela, do lamaçal que se apoderava do soalho com a chuva que caía la fora e que escorria dos chapéus e das solas que iam entrando e saindo do autocarro.
Na cara tinha arranhões, dando provas que já tinha sido arrastado por alguma sola de coro mais dura e nem imagino como terá terminado o dia, visto que por lá continuou esquecido junto á rampa de acesso a passageiros com mobilidade reduzida até á recolha.
Hoje foi mais uma sexta-feira daquelas a que qualquer lisboeta que enfrente o trânsito já está habituado e a simpatia também esteve bem presente nos passageiros que iam entrando e saindo em grande número talvez pelo fim-de-semana estar á porta.
Mais uma viagem para Campo de Ourique e no regresso á Charneca a oferta da semana... «Sr.Motorista tem aqui uma história ilustrada para dar a um dos seus meninos...» (Quem lhe disse que eu tinha filhos?! Que eu saiba ainda não os tenho) Dizia-me também que era o novo santo português que havia salvo o país. Na altura confesso que nem estava a entender bem o que a senhora queria dizer até porque o trânsito não dava tréguas. Guardei o folheto e agradeci, seguindo depois viagem rumo á Charneca.
Já no terminal decido então ver o que dizia o folheto que aquela senhora me tinha dado. Dizia no título "História do Cavaleiro Dom Nuno" e a ilustração era de facto vocacionada para crianças mas em poucos minutos ficaria a saber a história de Nuno Álvares Pereira, caso nunca tivesse ouvido falar no cavaleiro que lutou pela independência de Portugal.
Enquanto lia o folheto que falava nas batalhas que Dom Nuno teve pela frente e que venceu como a de Atoleiros, Valverde e principalmente Aljubarrota, só me lembrava da fotografia que tinha encontrado na viagem anterior. Também aquela fotografia "batalhava" contra as pisadelas, mas não com tanto êxito como as do cavaleiro que era diferente de todos os guerreiros. Diz o folheto que se converteu em santo - o S. Nuno de Santa Maria
Isto ser motorista da Carris tem de tudo um pouco e até dá para aprender História, com as estórias relatadas em folhetos ou contadas na primeira pessoa por passageiros que fazem com que todos os dias do motorista sejam diferentes.
O fim-de-semana está aí e haver vamos se haverá mais histórias ou estórias para contar porque o meu fim-de-semana só terá início na segunda-feira...
Boas Viagens!
5 comentários:
Rafael por acaso andou no 1732 (salvo erro) numa chapa que passou por entrecampos em direcção a Campo de Ourique por volta das 18 e 10 mais ou menos, quando o Rafael iría à conversa com um rapaz, e passamos por um acidente no cruzamento das forças armadas com a 5 de outubro?
Boa noite Busorganist,
Peço desculpa só agora responder, mas só agora vi o seu comentário porque acabei de chegar a casa depois de mais um dia de trabalho, hoje na 794.
Quanto á sua questão, sim era eu. Também ia a bordo do "meu" autocarro nessa viagem?....
Está confirmado. Um abraço e boas viagens.
Pois parece que sim:) Entrei na primeira paragem das Forças Armadas, e saí no Hospital, eu e a minha mala creme:) Um tipo assim para o redondo, com óculos e com uma capa ou casaco azul e vermelho, com o meu típico "boa tarde" prontamente retribuido.
Obrigado!
Para lhe ser sincero, recordo-me apenas do boa tarde, que por acaso nesse dia foram muitos, o que até estranhei, mas que aprovo. :) Espero então que tenha gostado da viagem e quanto ao retribuir do boa tarde... sempre!!! Abraço
Acho muito bem. Se o voltar a encontrar, falarei consigo! boas conduções caro tripulante de serviços públicos;)
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