Há muito que ando para escrever sobre eles. São visitas constantes e em muitos dos casos várias vezes num dia. Outros há que passam connosco o dia e são por essa razão, os passageiros frequentes. Andam tanto de autocarro como de eléctrico e em muitos dos casos chegam mesmo a criar laços de amizade com os tripulantes. Quando ainda desempenhava funções de motorista, na estação da Musgueira, cedo me apercebi que haviam passageiros que não estavam apenas de passagem. A carreira 79 era um bom exemplo do que aqui hoje retrato.
Mas a minha mudança para os eléctricos, levou-me ainda mais ao encontro desses passageiros que não se limitam apenas a dizer "boa tarde" ou a validar o seu título de transporte. Limitado a cinco carreiras acabo por me cruzar mais vezes com os passageiros que vou transportando e que em alguns dos casos, nós tripulantes somos a única companhia deles.
O contacto diário, faz-nos adivinhar onde querem sair, o que vão fazer e já sabemos até os que gostam de sair pela porta da frente e os que pedem "um jeitinho" nem que seja para pegar nos sacos das compras que já vão pesando nos braços de quem a todo o custo sobre o estribo do eléctrico. Há os que entram várias vezes ao dia, seja para subir ou descer a colina e há os que entram ao início da tarde e só saem quando o sol já se pôs, como acontece na carreira de circulação 12E.
Também eles, já sabem quando estamos para mais ou menos conversa, e se estamos alguns dias fora daquelas carreiras que utilizam, perguntam logo se estivemos de férias ou se aconteceu algo de preocupante. Na verdade, em muitos dos casos, acabamos por estranhar também se o senhor que adora falar do Benfica não nada no 28 ou se o conhecido poliglota não entra pela porta do eléctrico pronto a ajudar os turistas mais afoitos.
O velhote do banco também lá anda todos os dias e por isso estranha-se quando não aparece. A D.Luísa tem lugar cativo na 12E e é uma simpatia de pessoa. E não podia deixar de parte o senhor das escolas gerais ao qual apelido «grande chefe», porque sempre que entra diz... "Olha o grande chefe" e acredito que diga o mesmo a todos. Para os lados da Ajuda há a "senhora das horas", que a apelidei assim porque está sempre a perguntar-me a que horas arranca o eléctrico quando ela o apanha todos os dias à mesma hora.
São simples rotinas diárias que se tornam repetitivas e por isso fáceis de fixar. São assim também os dias de quem pelas ruas de Lisboa conduz milhares de pessoas e todas com um objectivo, nem que seja simplesmente, o descarregar de um descontentamento no tripulante, como muitas vezes acontece.
Entretanto, segunda-feira começo a formação para a condução de eléctricos articulados, pelo que o regresso ao contacto com o público está previsto para daqui a três semanas. Até lá, votos de boas viagens a bordo dos veículos da CCFL.
2 comentários:
Boa "folga" de passageiros e boa formação.
"excelente profissionalismo e histórias espetaculares!"
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