quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

RESERVADO: FORMAÇÃO


Por vezes dou comigo a pensar, no porquê da existência das bandeiras de destino dos autocarros e eléctricos em serviço regular de passageiros. Muitas são as vezes em que por lapso ou por distracção, alguns passageiros acabam por entrar numa carreira que na verdade nem era a que realmente pretendiam para chegar a determinado destino.

Mas se a razão “distracção” é uma boa justificação, outros há que entram num determinado autocarro e/ou eléctrico porque estão habituados a ver determinado tripulante por lá, ou porque simplesmente distinguem a carreira pelo modelo do carro habitual. O problema é quando o tripulante muda de carreira ou o autocarro habitual, é substituído por outro que raramente costuma andar em determinada carreira.

Ora por isso mesmo existem na frentes e no topo uma bandeira de destino, com o respectivo número da carreira e o destino final. Mas mesmo assim, esta não parece ser a solução para alguns. Os que não sabem ler, estão desculpados e por alguma razão, antes de entrarem perguntam qual a carreira e o destino. Aos invisuais, temos claro está, o cuidado de parar mesmo que não sejamos solicitados e informamos de que carreira se trata. Mas então qual é mesmo o problema dos que até vêem, sabem ler e insistem em querer entrar, mesmo que na bandeira de destino esteja “RESERVADO” ?!

A resposta pode estar repartida por vários factores, tais como pressa, a tal associação de um modelo de carro a uma carreira ou até mesmo, só porque sim! Na verdade é o que tem acontecido durante estas semanas de formação para a condução de eléctricos articulados. Depois dos estudos técnicos do eléctrico, fomos para a rua, nomeadamente para a carreira 15E que circula entre a Praça da Figueira e Algés. E para além da inscrição “RESERVADO”, junto ao vidro frontal está uma placa branca com a inscrição a preto “FORMAÇÃO”.

Nem uma nem outra parecem ajudar, porque ao aproximar o eléctrico das paragens, os braços levantam-se solicitando paragem, os passes começam a «ganhar vida» saindo dos bolsos e os passageiros que estão sentados na paragem levantam-se. Atempadamente ainda dizemos gestualmente que não serve, mas mesmo assim, muitos são os dedos que ganham força para pressionar os botões das portas. Ultimo recurso: Utilizar o microfone e através do sistema de comunicação com o exterior do veículo, informamos que o eléctrico encontra-se reservado.

E se muitos aceitam e até agradecem, outros há que ficam ainda mais furiosos e movimentam os braços num acto de revolta e desespero. Será que custa entender um pouco que para se conduzir um eléctrico, tem de se aprender?. Ou seja, que tem de haver uma formação e que essa formação, neste caso só é possível com um carro igual ao que habitualmente os transporta...

E assim tem sido as últimas semanas com estes diálogos entre formandos (tripulantes) e passageiros, quer seja de forma gestual, visual ou até verbal.

[n.d.r.]: Foto gentilmente cedida por Rogério Dias

3 comentários:

Vasco Lopes disse...

Rafael, apesar de não comentar já há algum tempo, eu estou deste lado a seguir as tuas histórias.
Este blogue continua a ser um excelente instrumento para que o cidadão tome consciência da importância da vossa profissão e das dificuldades pelas quais passam diariamente. Continua com este nível de qualidade. Abraço.

Vasco Lopes

CR 35 disse...

É lamentável que ainda hoje com apoios electrónicos e físicos,os pretendentes a viajarem em transportes públicos ponham questões aos que conduzem com toda esta informação disponível que custa dinheiro à empresa .O mais grave não são aqueles que não sabem ler, mas sim aqueles que frequentam estabelecimentos de ensino ou com um grau de cultura mediana.E enquanto a nossa sociedade não evoluir nem com ALTIFALANTES a berrar lá vão.

A lupa de alguém disse...

Os passageiros deviam de conhecer este blog, talvez assim tomassem consciência das atitudes que tomam, e reflectissem nelas.
Eu confesso que não tenho experiencia de andar em transportes dentro de Lisboa, mas as pessoas que fazem diariamente já deveriam ter noção de como as coisas funcionam. Eu acredito que a pressa, a distracção, o comodismo sejam factores que contribuem para estas atitudes!
Haja paciência!

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