sábado, 22 de dezembro de 2012

Sexta-Feira claustrofóbica na 28E para terminar a semana no dia em que se dizia que o Mundo acabaria

Todas as pessoas falaram nos últimos dias que esta sexta-feira seria então o fim do Mundo, mas a verdade é que uma vez mais, o Mundo não acabou a não ser para aqueles que partem e não voltam. Contudo o trânsito que já era de prever nesta sexta-feira - vésperas de Natal - foi uma vez mais caótico com longas filas nas artérias de ligação à Baixa. E o serviço lá tinha de começar com uma interrupção devido ao estacionamento abusivo. Desculpem, direi antes, abandono abusivo de viatura, porque estacionamento seria se o mesmo estivesse no local indicado que até estava livre, mas para a senhora do Golf preto da foto, o mais fácil foi mesmo deixar o carro no meio da rua e ligar os piscas. Juntaram-se então três eléctricos e o meu era o último. Juntos e a tocar a campainha, anunciava-se que algo não estava bem na circulação, e até se podia ouvir talvez nos Anjos, mas a senhora em questão até estava numa das lojas ao lado e não deu conta.

Diz quem viu, que ela saiu mesmo da Associação de Inquilinos Lisbonenses e se foi pagar a renda de casa, saiu-lhe cara a ideia de deixar ali o carro a transtornar a vida de quem usa o transporte público e tudo porque a Policia Municipal que passava no local, apesar de pouco satisfeita por ter de intervir (poderiam eventualmente estar na troca do turno), acabou por dar início ao bloqueio do carro. Mas como sempre acontece, mal chega a Policia o dono aparece também. «Ahhhh, desculpe, peço imensa desculpa, mas foram só 5 minutos...» dizia ao mesmo tempo que ouvia das boas por quem tinha visto a sua viagem parada pelo carro da senhora que há pelo menos 15 minutos estava na referida loja. Da multa não se livrou e aquela ida à loja terá sido certamente o fim do Mundo para aquela senhora.

Retirada a viatura, prosseguimos viagem pela carreira 28E, que continua a encantar quem nos visita. E hoje senti-me uma vez mais em casa nesta que é a minha carreira preferida também por isto mesmo, o contacto com os turistas. Oriundos do Brasil dois casais deram uma volta até aos Prazeres e regressaram ao Martim Moniz em busca de um restaurante para comer um bom bacalhau. Pelo meio uma simpática mas curta conversa sobre os bondes de Santa Teresa, que habitualmente são comparados pelo povo irmão, com os nossos eléctricos de Lisboa. Surpreendidos ficaram quando lhes disse que eles iriam voltar depois de uma intervenção conjunta do estado brasileiro e da Carris. 

O trânsito na zona do Bairro Alto circulava com demora. As compras de última hora para o Natal que está à porta é um habitué português e quem vier atrás que se desenrasque, sobretudo se estiver limitado a uns carris. Encantados com a viagem pelas ruas estreitas e sinuosas por onde passa o 28E, os dois casais lá seguiram depois em busca do restaurante depois de abandonarem o eléctrico no Martim Moniz. 

Foi também nesta praça que logo na viagem seguinte apanhei mais um casal brasileiro, desta feita em busca do Castelo de São Jorge que já estava de portas fechadas. Em vésperas de regresso ao Brasil, não queriam partir sem andar no 28E e de conhecer um pouco mais da cidade e acabei por sugerir então uma viagem até ao Chiado, de onde poderiam através do miradouro de São Pedro de Alcântara, avistar não só o Castelo, mas também a igreja da Graça, e a Sé com os Restauradores e a Baixa a seus pés. O sr. Celso a sua esposa e filha, acabaram por seguir a sugestão e ficaram pelo Chiado onde visitaram a Brasileira, a estátua de Pessoa e Camões, dois dos autores preferidos deste amigo que veio de São Paulo também com a paixão pelos "bondes" que infelizmente já não circulam na sua terra Natal, mas que como fez questão de dizer, «ainda bem que são preservados em Portugal». Dos eléctricos de Lisboa passamos para os do Brasil, os de Praga e até de metro se falou, tenho o turista em questão, feito questão de me oferecer um "ingresso unitário do metrô de São Paulo", para coleccionar, o qual não pude deixar de agradecer.

A viagem passou num instante ou não estivéssemos nós a falar de transportes, a trocar ideias e a fazer comparações. A simpatia do senhor Celso e família acabou por marcar a noite que não se ficaria sem o caricato episódio habitual e desta feita na minha última viagem do dia, com partida dos Prazeres. Uma jovem de auriculares nos ouvidos ouvia descontraidamente a sua música enquanto desfrutava do ar que entrava pela janela que mal entrara terá aberto. Era a única passageira, mas na paragem da conhecida pastelaria «O Canas», duas senhoras entraram e sentaram-se imediatamente atrás da jovem, pedindo que fechasse a janela. A rapariga em questão, até foi educada e disse que não se importaria de fechar e avançar um lugar para a frente para poder abrir a janela. «Desculpe mas é que eu com a janela fechada não posso ir porque sofro de claustrofobia e por isso mesmo só à noite ando de Eléctrico...»

Mas a senhora que havia então entrado, apesar de imediato nada ter dito, não chegou à Estrela sem deixar a sua cházada... «Se sofre de clatrobia, que toma um xarope que há caltrofóbico ou que raio se diz...». A jovem continuou no entanto a curtir a viagem ao som da música e do vento que corria já pela Calçada da Estrela. Já no cimo da Calçada de São Francisco eis o então falado, Fim do Mundo para um WV Polo que apesar de novo terá ficado sem a frente em segundos depois de derrubar uns quantos pilaretes, devido à condutora não ter feito a curva. Desorientada e aparentemente mal disposta, aconselhei juntamente com dois transeuntes a que deixasse o carro estacionado e se acalmasse, mas a senhora preferiu antes ignorar-nos e seguir mesmo com o carro a arrastar peças pela Calçada abaixo. 

Cheguei então à Igreja da Madalena e lá estava de novo com a frente do carro desta feita contra um sinal de trânsito. E a juntar a este, foram muitos os acidentes presenciados até à recolha, porque na verdade ou anda tudo maluco com o Natal ou então, todos quiseram fazer tudo antes do Mundo acabar, o que afinal de contas acabou mesmo por não acontecer. E assim terminou a semana pelos carris do 28. Despeço-me com os votos sinceros de um Feliz Natal para todos.


2 comentários:

BRUXA disse...

Foi muito divertido, para mim, hoje fazer esta viagem consigo.
Feliz Natal ,Bom Ano Novo e a continuacao de muita, muita paciência para ir aturando isso tudo:-)))

CR 35 disse...

Chiça! que dia mais divertido! de facto apodera-se das pessoas algo estranho...mas parece-me que já se está a tornar rotineiro!
Bom Natal.

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