terça-feira, 24 de novembro de 2009

Um «espigão no pé» de quem gosta de partilhar a dor a bordo do 36

E se de repente, estivesse a conduzir um autocarro e ouvisse alguém falar mal do colega de trabalho mesmo na cadeira atrás de si!? Parece-lhe banal e nos tempos que correm é do que mais se ouve num transporte público, com aquilo a que se chama o «corte e costura», de quem não teve coragem de dizer no local certo e frente-a-frente ao colega, e que escolheu o amigo(a) no autocarro para desabafar.

Depois há também aqueles passageiros, como o jovem que hoje ia no 36, que tentam ultimar os estudos para o exame que vão ter na faculdade, mas com o vizinho que vai na cadeira do lado ao telefone é difícil, a menos que o jovem tenha um enorme poder de se abstrair daquela chamada telefónica, ainda que o dialecto seja uma mistura de português e crioulo, num tom bastante alto que até aposto, se ouvia na última fila do articulado.

Mais pacatos e até sossegados são aqueles que aproveitam a tarde para passear de autocarro, mas que em contra-partida demoram o dobro do tempo a entrar e sair, e até a sentarem-se. A meio da tarde, um simples olhar pelo espelho retrovisor de dentro, dá-nos a sensação que estamos a conduzir um Lar ambulante. Mas se pensa que fica por aqui, engana-se. E se está a pensar vir a ser motorista, o melhor mesmo é ir-se habituando a certas e determinadas perguntas, conversas, etc...

É que entre uma paragem e outra é capaz de se contar a história da vida do patrão, ou comentar o vestido da senhora que vai na rua e a conversa pode mesmo terminar nos pés. Assim foi hoje na viagem para o Sr.Roubado. Duas senhoras sentadas na primeira fila junto à porta da frente, desejosas digo eu, de meterem conversa uma com a outra. Na paragem de Entrecampos, estava uma senhora já com alguma idade, mas com um traje bastante jovem e um simples comentário de uma das passageiras foi o suficiente para que a conversa terminasse só no Lumiar.

Começaram na roupa, passaram para as profissões e até debateram o estado do país. Se um acidente no cruzamento da Av.Brasil, lhes captou a atenção por instantes, logo de seguida a conversa estava já nos pés e tudo por causa das temperaturas que baixaram nos últimos dias. O que era escusado comentar com a vizinha do lado era que lhe tinha nascido um espigão no pé, que com este frio lhe tem causado umas dores intensas.

Poderia também ter poupado o motorista de saber que teve de recorrer a uma esponja na sola do sapato para que a dor fosse atenuando com o andar. E num instante pareciamos ter passado de um autocarro para uma consulta de pedologia, com os conselhos da passageira que estava atenta a ouvir todos os pormenores.

Ainda quer ser motorista? Então força, tem o meu apoio porque apesar de tudo até é uma profissão engraçada, mas não se esqueça que além de ter de gostar de conduzir e saber lidar com os artistas que andam por ai na estrada, tem também de ser o consultório sentimental de uns e o conselheiro de destinos de outros.

Boas Viagens!

7 comentários:

Busorganist disse...

Eu quero.. lógico que quero =D
Saudações Rafael.

Rodrigo disse...

Hoje aconteceu-me uma coisa curiosa, 20h30, saida do trabalho, chego à paragem do 727 na avenida da república e faltavam 54minutos para o autocarro. Não estava avariado. conclusão vim a pé à chuva.

Rafael Santos disse...

Rodrigo,

Não foi só a 727. Hoje Lisboa simplesmente PAROU! Chove em Lisboa e os carros param. Eu era para ter recolhido com a 745 ás 20h05 e recolhi ás 21h10 e nao fiz a viagem ao P.Velho. Levei só bandeiras de Aeroporto com ordens da central. A baixa tava caótica mas a av.brasil tava iguale a 2ª circular idem. Tudo parou!

André Bravo Ferreira disse...

Cai uma gota de água(se bem que ontem teve o dia todo a chover) vem tudo de carro e entopem as avenidas, ruas e ruelas...

No Metro ouvi uma frase que me deixou perplexo. Nem me atrevo a contar por respeito e consideração às senhoras que visitam este blog.

Grande abraço.

Anónimo disse...

36 e 745 e que tal rafael? como vês não quero que te falte nada meu amigo, sempre que for possível encetarei todos os meus esforços para que tenhas as carreiras que mais gostas, abraço.

Sr.Escalador.

Rodrigo disse...

esta cidade é um espetáculo, chove um pouco fica logo um caos. deve ter tudo medo de molhar o ego e precisam de 4m2 para o trazer seco dentro do carro. é uma questão de hábito, eu demorei 1 dia a adapatar-me a mudar de carro para transportes.
Abraço

CR 35 disse...

Eu vou sugerir ao administrador da Carris que seja dada formação ou seja exigido aos novos motoristas um certificado parapsicólogo de aptidão para que seja possível dar consultas nos terminais de carreiras, porque de facto o povo anda muito desnorteado e a ver demasiadas telenovelas assim não ligam nenhuma aos conselhos do Sócrates (que até oferece magalhães e dá novas oportunidades aos mais velhos e também aos novos)para o povo evoluir e colaborarmos todos para que Portugal seja um País de pessoal com boa formação mas como não é possível vamos apreciando o povo no seu dia a dia com as suas tiradas inteligentes de quem por vezes não tem nada para fazer senão dar bastante uso ao passe social aquecendo ou polindo os bancos dos transportes públicos. Boas viagens.

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