Os constrangimentos do trânsito, os cortes de ruas e nomeadamente o centro da cidade, prometiam uma terça-feira caótica e diferente do habitual. Carreiras encurtadas, outras fraccionadas, algumas até suprimidas, tudo para Lisboa receber a visita de sua santidade, o Papa Bento XVI que visita pela primeira vez o país nesta condição. O certo é que esta terça-feira acabou por ser mais calma que o habitual na carreira 18E.
A funcionar entre o Cais do Sodré e a Ajuda, esta carreira parecia circular num Domingo, com as ruas vazias, até porque a população estava na sua maioria concentrada na Praça do Comércio e nas ruas adjacentes. Alguns eram apanhados de surpresa, sobretudo os estrangeiros que entravam no Cais da Rocha, provenientes do paquete ali atracado. Mas outros haviam que sabiam perfeitamente do que se passava e até criticavam.
Nestes dias ouve-se de tudo e o guarda-freio ou motorista da Carris transforma-se num instante em muro de lamentações do tamanho do antigo muro de Berlim. «Andamos nós a pé para que seja recebido um homem que ajudou a matar gente no exercito do ditador...», dizia um idoso mais revoltado com o encurtamento da carreira ao Cais do Sodré. Mas se uns mostravam descontentamento, outros haviam que viam a visita do Papa bento XVI como uma festa para a cidade. De t-shirts brancas e bandeiras azuis lá caminhavam rumo ao Terreiro do Paço, mas sempre com alegria no rosto e máquina fotográfica na mão, porque para muitos era a primeira vez que viam ao lado um eléctrico e não admira portanto que este tenha sido dos dias em que mais flashs vi serem disparados.
Depois houve também quem quisesse dar-me uma bandeirinha alusiva à visita de Bento XVI e lá permaneceu até ao final do serviço junto ao controller do eléctrico. Uns mais religiosos que outros, alguns até cépticos, o certo é que há sempre quem tenha uma veia mais humorística e não deixe escapar a oportunidade. Afinal até anedotas se contaram na carreira 18E sobre a visita de Bento XVI, por uma passageira que já é conhecida por ser mais extrovertida, para a sua idade, em relação ás restantes. E lá deixou todos a rir, criando um final de tarde animado mesmo em frente a um local que é habitualmente de tristezas - o Cemitério da Ajuda.
Quem também seguia com ar animado, mas no seu Mercedes e com escolta policial, foi o Exmo. Sr. Presidente da República, na companhia da sua esposa, e que por instantes curtos cortaram a circulação no Cais do Sodré, onde eu me encontrava preparado para mais uma viagem rumo à Ajuda. E como não podia avançar, registei o momento da sua passagem, porque já que não vi o Papa, vi o nosso presidente.
Resumindo, o dia até passou rápido e de forma simpática, mais simpática até, que o colega que se encontrava no Cais do Sodré a coordenar o tráfego, talvez desgastado com a quantidade de perguntas de que ia sendo alvo, ou vencido pelo cansaço. Quero acreditar que assim tenha sido.
Boas Viagens!
4 comentários:
O controlador no Cais do Sodré não deve ter tido a vida fácil.
Mas, já agora, como é que o eléctrico dava a volta no Cais do Sodré?
Na Praça duque da Terceira, onde existe uma raquete que cruza o final da Rua do Alecrim.
O que eu achei lindo foi as bandeirinhas nos veículos da Carris, adivinhem quem pagou! Não é a Carris uma empresa deficitária?
É que tentei visualizar a coisa e pensei que não dava para inverter...
Obrigado.
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