A Páscoa parece já ter chegado ao eléctrico 28E. Com o aproximar da data, nuestros hermanos invadiram uma vez mais Lisboa e claro está, os tranvias voltam a andar cheios para cima e para baixo. E se de repente no meio de franceses e sobretudo espanhóis lá se ouvir alguém perguntar «were is the stop for de Castle?» então poder-se-á dizer que foi alguém que se infiltrou na invasão espanhola a Lisboa e suas colinas. Sejam bem-vindos ao universo da carreira 28E.
Perante um tempo que prometia muita chuva pela manhã cinzenta, que fazia lembrar o provérbio popular que diz que «em Abril, águas mil», o certo é que a chuva acabou por não aparecer, deixando espaço para o Sol dar um ar de sua graça. E se muitos eram os que passeavam entre os Prazeres e o Martim Moniz, outros haviam que tentavam a todo o custo entrar no eléctrico para regressarem a casa após mais um dia de trabalho num ano que já por si não é fácil para quem trabalha.
Na minha última viagem do dia, com destino ao Martim Moniz preparava-me para sair da paragem do Largo da Graça, quando avisto uma senhora a correr em direcção ao eléctrico com ar cansado e de quem já não conseguia dar mais um passo. Quase sem fôlego, agradece-me o facto de ter esperado por ela. E já dentro do eléctrico e com a porta fechada para seguir viagem, lá foi desabafando...
«Obrigada filhote. Deus te dê saúde que é o que peço também para mim. Venho tão cansada do trabalho...», dizia enquanto lá do meio alguém dizia que «hoje não há fados rapariga», dando a ideia que nos tempos livres a senhora gosta de cantar fado. Ela não se conteve e continuou... «Ai vais aí também? Epah, venho do trabalho tão cansada. Fartinha de esfregar escadas. Anda uma pessoa a trabalhar para essas p**** do rendimento mínimo. Dizem que não têm trabalho. É mentira! Não há é empregos...» dizia quando já tinha mais alguns passageiros a darem-lhe razão.
Entre a Graça e a Rua da Palma não faltaram temas de conversa naquele eléctrico e quando chegou ao seu destino, não deixou de voltar a agradecer ter esperado por ela. Assim vão as viagens pelo eléctrico mais emblemático da cidade de Lisboa!
2 comentários:
Boa noite,
O meu irmão é seu colega o que faz com que respeite ainda mais a vossa profissão. Não é fácil e sei que muitas vezes custa não receber pelo menos um bom dia e ainda ter de ouvir certas coisas. Mas é uma profissão bonita e um contacto bonito com o povo português e lisboeta. Costumo olhar para os motoristas com admiração e aqueles que mais "apanho" vejo-os como amigos... divirto-me muito a andar de autocarro.
Um abraço e força, tem aqui um belo cantinho!
curioso. comentou ontem numa nota que deixei na página da Carris por causa de uma situação que presenciei no 28. também estava cheio de espanhóis e penso que foram eles que deram a ideia de desviar a carrinha para deixar passar o eléctrico. o 28 é todos os dias um mistério.
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