quinta-feira, 3 de maio de 2012

Até passava, mas não era a mesma coisa!

Ao descer a Avenida Almirante Reis ao final desta manhã, avistava um carro que impedia a passagem do meu eléctrico, mas como tinha as luzes de emergência ligadas, pensei que o condutor estaria por perto, como aliás já vem sendo hábito nas ruas de Lisboa. Pensei, mas enganei-me! Toquei a campainha durante algum tempo e nenhum sinal do condutor(a) que até então ninguém sabia quem era, apesar dos amantes da "loira" - leia-se cerveja - que estavam sentados na esplanada do café mesmo ao lado, dizerem que «o homem foi para a marisqueira do Ramiro pá!»

Pouco me interessava naquela altura para onde tinha ido o condutor(a) do veículo. O que eu pretendia mesmo, era que ele ou ela aparecesse rápido porque quem ia "dar ao dente" de seguida era eu, que na viagem seguinte iria ser rendido na Estrela. No interior do eléctrico eram diversos os comentários. Havia quem repreendesse o estacionamento em questão, mas havia também quem me perguntasse o porquê da paragem... «moço, porque não segue viagem com o bondinho?...»

Não foi preciso explicar o motivo, porque bastou a turista em questão olhar para a frente do eléctrico e perceber a causa da paragem. Entretanto comunicava à central a interrupção e ao mesmo tempo, já quando as dificuldades eram algumas na comunicação com a C.C.T por falta de cobertura da rede, eis que uma senhora já com alguma idade, decide descarregar a sua revolta bem próximo dos meus ouvidos. Pedi-lhe que tivesse em conta que estava a tentar comunicar com o colega da central a fim de solucionarmos o problema e lá se acalmou. 

Enquanto todo este processo decorria no interior do eléctrico, lá foram a "plateia" ia ficando preenchida entre transeuntes e os próprios turistas que aproveitavam todos os instantes para fotografar a profecia daquela condutora, que passados 15 minutos se apresentou perante a "plateia", em jeito de corrida e vermelha que nem um tomate. Pediu-me desculpa pelo incómodo, mas acrescentava que quando estacionou teve o «cuidado de deixar a linha livre». Afinal de contas, até passava mas não era a mesma coisa!

Pensei a certa altura que ainda estivesse a gozar comigo, ou então, pensaria a senhora que ali passava um carrinho de linhas em vez de um eléctrico. Não se livrou claro está dos habituais insultos por parte dos passageiros mais revoltados. A viagem prosseguiu e logo na paragem seguinte a cerca de 150 metros lá a senhora que me tinha gritado aos ouvidos pedia para sair pela porta da frente! Continuo por descobrir passados alguns anos de transportes públicos, o porquê de preferirem sair pela porta da frente. 

Razões já me deram várias, desde ser mais baixo o degrau, ser avistado pelo condutor, ou porque fica mais perto do destino. Há desculpas para todos os gostos, mas o certo é que a saída pela frente acaba sempre por atrasar a entrada dos que estão à fora, nomeadamente nos eléctricos tradicionais, onde a entrada é por natureza estreita. E em muitos dos casos, já observei pessoas que pedem para sair pela frente e são as próprias que quando estão do lado de fora para entrar, reclamam com quem então está a sair pela porta da frente, não deixando de dizer, «ouça lá a saída é lá atrás...», afinal até sabem, mas é só quando lhes interessa. E assim vão as viagens pelas colinas de Lisboa.


3 comentários:

CR 35 disse...

Um homem já não pode ter ....a hora da Loira?

Sandro Castro disse...

Amigo Rafael, passar até passava e quando aparece o condutor do veiculo lá vem a famosa frase: "Desculpe lá" e por vezes penso para comigo, não é a mim que devem pedir desculpas é a todos os clientes que se encontram dentro do eléctrico, porque o tempo que estiveram ali à espera estiveram obrigados. Porque 5 a 10 minutos parados, à espera que o veiculo saia, mais 1 ou 2 minutos do sinal, mais 1 ou 2 minutos que a carrinha da mercearia saia da frente no fim de uma viagem perdesse entre 10 a 15 minutos, em 30 ou 40 eléctricos é imenso tempo gasto em nada. Tenho imensa pena que não seja noticiado na comunicação social que tivesse sido autuado um condutor por uma quantia, mas uma quantia grande a fim de se iluminar algumas mentes que o transporte público não pode esperar e quando tal acontece pagamos todos. Se assim acontece todos nós sairíamos a ganhar.

Ana disse...

Achei muito engraçado o "mistério da porta da frente". Realmente não há grande explicação, acho que é pura preguiça. Já o fiz em dias em que ia com muitas malas e o autocarro estava muito cheio, pois o tempo de passar entre as pessoas todas até chegar à porta de trás era quase o tempo de sair! Parabéns pelo blog e pelo gosto e empenho com que trabalha!

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