Está
frio, passam 5 minutos das 10h00 e estou a gozar o segundo dia de umas mini-férias
em Lisboa, porque a Troika não me deixa ir para longe. Tenho assuntos a tratar
na cidade mas deixo o carro à porta e estou na paragem à espera do 706 que me
vai deixar junto da Estação de Santa Apolónia. «Vai partir dentro de momentos
na linha número 6 o comboio com destino a Tomar», anunciam as colunas da estação.
Vejo pessoas a correr em direcção ao comboio, outras saem do supermercado
carregadas de sacos e por centímetros não choco de frente com um senhor que de
repente decide pegar num jornal gratuito que se encontra no suporte à esquerda.
A
azáfama matinal mostra que longe vão os tempos em que a correria para o
trabalho era apenas entre as 7h e as 9h. Os táxis enchem a praça porque o negócio
também não está famoso para eles. A paragem do 735 tem uma fila considerável,
que reduz de tamanho com a chegada de mais um autocarro da carreira 794. Daqui
sigo para o outro ponto da cidade onde tinha combinado tratar de outro assunto.
Para
lá, sigo de metro não só porque não tinha autocarro directo, mas porque o metro
iria certamente ser mais rápido. Desço as escadas até ao cais terminal da linha
azul. Cruzo-me com alguns turistas em busca de Alfama, com pessoas que vão a
caminho de mais uma jornada laboral e de outros que vão a caminho da escola. O
silêncio é interrompido pelo chegar da carruagem do metropolitano, como dizem
os idosos. Em redor vejo olhares debruçados nos jornais gratuitos, nos livros,
nos ipad’s, nos telemóveis e outros no abstracto escuro do túnel. «Próxima
estação... Baixa-Chiado, há correspondência com a linha verde», ouve-se no
metro. Agitam-se os bancos, mexem-se os sacos e as malas. Uns saem e outros
entram. O sonoro das portas toca avisando o fecho. Seguimos novamente viagem
com outros protagonistas a bordo.
Chego
então ao meu destino: Sete Rios. Um regresso a um local por onde passei inúmeras
vezes quando prestava ainda serviço na estação da Musgueira. Local de rendição
de várias carreiras, avisto de imediato um grupo de colegas prontos para dar
folga aos que chegariam. Em redor um vazio imenso que contrasta com os tempos
em que ali passava com o 701 ou com o 755. O quiosque dos jornais tem a grade
corrida, mantendo-nos longe da actualidade das manchetes e o único café que ali
restava está já fechado.
Cruzam-se
autocarros, táxis e peões em busca da paragem que os sirva. Café só lá em baixo
no metro ou dentro do Jardim Zoológico. Como está diferente aquele local de
rendição. Zona por si fria no inverno, está agora mais isolada sem um espaço
onde abrigar do frio. Ao meu lado estão dois casais de idosos. Um dos casais
comenta a falta que faz o 716 que agora só funciona nas horas de ponta. A zona
de Sete Rios hoje está diferente de Sete Rios de há dois anos. Está mais pobre,
talvez afectada com a crise que obrigou a reformulação no sector dos transportes,
nem sempre feita como devia.
De
regresso, decido voltar a bordo dos veículos da Carris e entrei a bordo do 726.
Na fila do lado direito, segue uma jovem ao telemóvel. Todo o autocarro fica a
conhecer o teor da conversa. Em vésperas de apresentar uma tese, a jovem
procura recolher opinião de vários colegas e amigos e escusado será dizer que
perdeu a noção do que é viajar num transporte público. De Sete Rios ao Técnico
várias foram as chamadas efectuadas, várias foram as trocas de ideias. Uma
viagem que podia ser tranquila para uns, tornou-se numa angústia ao ver a
paragem de destino. A passageira que viajava no lugar de trás mostrava-se já
farta de tanta conversa. O da frente fechava o livro que lia, talvez por não
conseguir concentrar-se e o sossego imperou depois da saída da jovem.
E
assim vão as manhãs no quotidiano da cidade de Lisboa, com um olhar passageiro
de quem por norma vai aos comandos não a ser transportado mas a transportar
milhares de pessoas por dia.
2 comentários:
A cidade nos seus contrastes!
Uma excelente descrição e uma maneira diferente de ver as coisas na grande capital.
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