segunda-feira, 25 de julho de 2022

O Jean-Pierre está de volta e trouxe uma camisola do Ronaldo...

Foto: Adriano Miranda (Público)
 Eles estão de volta e com eles o anunciado querido mês de Agosto. O Jean-Pierre está de volta e trouxe uma vez mais a camisola da selecção nacional com o nome do Ronaldo nas costas. A mãe do Jean-Pierre com as suas unhas estilo francês, calção curto e de chinela no pé, o pai com uma bolsa da nike ou adidas a tiracolo e fio de ouro ao pescoço e todos com a máscara no queixo. O Bronze que apanharam no Algarve antes da chegada à capital ou quem sabe, na fila do 28 no Martim Moniz, faz lembrar um lagostim, mas isso agora não importa nada. O que interessa mesmo é entrar a bordo do 28 "pour fair um tour por Lisboa senhor..."

-São 3€ cada bilhete, válido para uma viagem! E o pai do Jean-Pierre questiona se o bilhete dá para o ir e para o voltar, num português afrancesado. Explico-lhe que não. Compra para ida e depois compra para voltar. "Mas este 28 não fait o tour de Lisbonne?" -Nem este nem nenhum. O 28 percorre grande parte do centro e zonas históricas de Lisboa, mas não é circular. É um transporte público e não turístico, esclareço.

Não muito convencido o pai do Jean-Pierre estende a nota de 20€ e pede 4 bilhetes, ao mesmo tempo que o filho já se dirige para o fundo do eléctrico em busca do melhor lugar à janela. Segue-se a mãe e a irmã e por fim o pai. Os quatro sentados com lugar na janela, parecem 4 crianças felizes da vida como que se fossem embarcar num carrossel ou numa montanha russa da feira popular.

Seguem-se mais turistas na entrada, aparecem 3 que não consegui perceber de onde eram. Pedem 3 bilhetes e pergunto antes de imprimir o bilhete, se têm máscara. Dizem que sim e que já vão colocar. Recebo o dinheiro, imprimo o bilhete e devolvo o troco. Sentam-se e entretanto com a entrada de mais uns quantos os lugares ficam todos ocupados e embora possam viajar de pé, os restantes na paragem preferem aguardar pelo próximo.

Os três que compraram bilhete continuam sem máscara e em amena cavaqueira. Peço que coloquem a máscara. Dizem que não têm. Ok, então sem máscara não podem prosseguir viagem,e convido-os a sair. Os mesmos começam a improvisar puxando a camisa ou a t-shirt para o nariz. Digo-lhes que não serve de máscara e têm mesmo de sair. E exigem de imediato o dinheiro de volta. Recuso a devolução do dinheiro dado não ter opção de anulação do bilhete impresso e retirado da máquina e sugiro que peçam o reembolso na Carris, ainda que lhes relembre que perguntei antes de vender se tinham máscara e que disseram que sim. Os restantes passageiros começaram a incentivar a saída para que o eléctrico seguisse viagem e os três acabaram por sair não sem antes me insultarem e dizerem mal de Lisboa e de Portugal e das nossas leis. Como que se alguém os obrigasse a cá vir e a entrar no eléctrico...

Entretanto o eléctrico segue o seu rumo em direcção aos Prazeres até ser travado por um carro com "4 piscas" a impedir a marcha. O Jean-Pierre vibra com a campainha do eléctrico a tocar na esperança que o dono do carro apareça e dirige-se a correr para a frente do eléctrico. A mãe de imediato alerta "Jean-Pierre vien ici! Fait Attention... tu vá tombé!!!"

E num instante parece que estamos em França onde o francês é a língua em destaque por estes dias a bordo do eléctrico, aqui e ali interrompido, por uma tentativa de praticar a língua mãe na procura de uma informação ou sugestão. Afinal de contas os nossos emigrantes estão de volta e a anunciar a chegada do querido mês de Agosto. Sejam bem vindos e tenham umas boas férias, que agora também sou eu que je vais en vacances...

E assim vai o dia-a-dia a bordo do eléctrico mais procurado do mundo. Boas viagens ou se for o caso, boas férias! 

1 comentário:

CR 35 disse...

São muitos anos emigrados, é natural que se percam na língua nativa assim como alguns usos,costumes ou regras. Mas não esquecem o sacrifício que passaram para chegarem e exibirem o seu sacrifício. Os outros pensam que chegam ao País dos parolos ( ainda somos um pouco e ainda vai demorar a mudar essa imagem)e impõem as regras e alguma arrogância. Mas a falta de informação e se a há, não temos ninguém para a aplicar admoestar ou fazer cumprir . Enfim, precisamos deles mas com respeito.

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