domingo, 9 de dezembro de 2012

Da impaciência portuguesa à incompreensão castelhana à distância de um click

Cada dia que passa, entendo menos as atitudes de alguns passageiros. O meu dia de trabalho começava em Algés, pelo que antes teria de travessar toda a cidade para chegar ao local de rendição. Sábado, dia de feriado e o que me esperava seria certamente uma enchente como a verificada hoje por toda a cidade. A juntar-se aos inúmeros portugueses que aproveitam uma tarde de sol para o passeio, estavam os espanhóis que em peso se deslocaram até Portugal. Uma lufada de ar fresco para a economia portuguesa que tanto precisa. Mas ar fresco era algo que não se respirava nas carreiras que ligavam a zona de Belém ao centro da cidade.

Mas se os que vinham do centro da cidade vinham cheios, já o 729 que apanhei em Belém com destino a Algés, vinha com bastantes lugares disponíveis apesar de alguns passageiros circularem de pé, talvez impacientes com a chegada ao terminal. Do fundo do autocarro ouve-se a certa altura que «o motorista vai a pisar ovos. Mexa esses braços». Achei demasiada falta de respeito por parte da passageira para com o meu colega, que de forma profissional e, dada a irregularidade do piso entre o Largo da Princesa e a Rua Damião de Góis, procurava com todo o cuidado, realizar uma condução segura e confortável, poupando igualmente a própria máquina ao desgaste que o asfalto lhe provoca.

A pressa da passageira era enorme. Talvez a mesma com que tinha entrado quando procurou o lugar mais longe do validador. A mesma de quem entra às 9h00 no serviço e mete o despertador para as 9h05. Sentado no primeiro banco junto à porta da frente, olhei de forma repugnante para trás, mas como não era comigo, preferi não dizer nada. O mesmo fez e bem o colega que seguia ao volante da carreira que terminaria minutos depois em Algés. Ali saímos todos, cada um seguindo o seu caminho e a referida passageira que estava com tanta pressa, saía do autocarro num passo normal próprio de quem teria uma tarde livre pela frente. De fato treino vestido, mochila às costas, não terá tido certamente a tarde igual à de quem a transportou. Afinal de contas o melhor mesmo é decidirem-se porque se o autocarro vai rápido, o motorista é bruto. Já se vai com cuidado, o motorista é pastelão. 
 Mas autocarros à parte e já sobre os carris na carreira 15E lá andei a "abrir o sorriso" com o 506 aos espanhóis que não só "enchem" uma casa como também eléctricos. Creio mesmo que, mesmo estando fechado na cabine, o meu cérebro já pensava até em castelhano de tanto os ouvir falar... «Para ir à Torre de Belém?».... «Vás à Jerónimos?»... «Vás al centro?»...
Mas afinal para que servem os mapas nas paragens, as bandeiras de destino e os avisos de paragem? Afinal para que servem os botões existentes nas portas? Será preciso tirar um curso para andar num transporte público que até nem é de última geração? Tudo me leva a crer que quem nos visita tem certas e determinadas atitudes, como bater nos vidros para fazerem perguntas, fazer gestos como se fossem tradutores de língua gestual ou até mesmo encolher os ombros porque as portas não abrem quando não carregam no botão, só podem andar de carro nos seus países de origem. 
E escusado será dizer através do microfone para exterior "pressione o botão", que ainda se assustam, pensando que em Portugal os transportes são assustadores porque falam. Assim foi esta tarde na paragem do Museu dos Coches com destino à Praça da Figueira. Depois de um casal com dois filhos ter solicitado a paragem, ficaram durante uns segundos a olhar para a porta. O pai de família dirigiu-se de imediato ao vidro da cabine dizendo que a porta estava «cerrada!», tentei explicar que tinha de carregar, através de um gesto com o meu dedo indicador direito e a reacção do senhor foi qual?.... olhar para a parede seguindo o meu dedo.  Informo pelo micro que tem de "pressionar o botão!" e de imediato os quatro que estavam junto ao eléctrico deram um passo atrás. A cena, digna de uns apanhados televisivos, só terminaria porque alguém no interior do veículo se apercebeu e abriu a porta. E estava tudo à distância de um click!

2 comentários:

CR 35 disse...

Certamente os métodos de entrada e saída dos transportes em Espanha deve ser diferentes,mas BURROS mesmo são os que se transportam à anos e vêm fazer perguntas desnecessárias com tudo à mão de semear originando respostas que escusavam por vezes de ouvir tal é a tamanha ignorância.Cada vez mais os utilizadores de transportes públicos de superfície, merecem andar de carroça porque se querem qualidade a preço baixo ainda o têm ,com autocarros mais confortáveis que por vezes utilizam como depósito de lixo e refeitório além de os vandalizarem com pequenos grafitis e bancos danificados.Educação precisa-se,boas viagens a bordo dos veículos da CCFL conduzidos por gente competente e bem formada, basta abordar de forma correcta ,educada e com perguntas lógicas que terão respostas adequadas.

Ana disse...

O povo espanhol tem particularidades...ah ah ah.
Há uns anos assisti a uma cena deliciosa num aeroporto de Paris: estava previsto que o voo para Madrid fosse numa determinada porta, onde já se encontravam dezenas de espanhois a "berrar", (para mim estão quase sempre a berrar, tal é o volume); às tantas é anunciada a mudança da porta - claro que ninguem prestou atenção - ficaram em pânico quando de repente apareceu no ecran o novo voo... resultado uns quantos olham para mim e perguntam "e ahora?"...confesso fui mazinha disse que não sabia...

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