O lenço no pescoço era verde e o chapéu era branco. Em jeito de gingão, subiu ao autocarro e mais rápido que a sua própria sombra, diz-me que o seu Lisboa Viva estava carregado mas que não passava nos validadores. Tinha o comprovativo como prova do pagamento do seu passe e eu tinha já no meu imaginário as correrias do cowboy que disparava mais rápido do que a própria sombra, e enfrentava em todas as suas aventuras o crime e a injustiça. Exactamente o "Lucky Luke".
Para bem dos restantes as pistolas «tinham» ficado em casa, mas as botas eram idênticas. E se este era, digamos, um cowboy á portuguesa, fazendo concorrência ao original Lucky Luke de origem franco-belga, que actuava no Oeste Americano, já a seguinte passageira que entrou imediatamente na paragem seguinte, poderia ser bem uma cowgirl, não pelo traje, mas pela forma como entrou e disparou uma catanada de palavras sobre o colega da frente(742) que a tinha visto na paragem e não tinha parado.
Perguntou-me inclusive se «não sabe o nome do seu colega que ali vai á frente?...», pois obviamente que a resposta era daquelas que nem precisava da ajuda do público, nem dos 50-50. Se soubesse o nome de todos os meus colegas, estaria prestes a entrar no guiness, mas também não lhe iria dizer, porque até apostava que não tinha feito sinal para parar (é o normal...), até porque naquela paragem em questão param duas carreiras, pelo que se dá sempre o benefício da dúvida que neste caso seria 718 ou 742.
E para terminar a manhã nada melhor que um diálogo do tipo:
Passageira: «Bom dia, passa onde tinham a vossa estação?»
Motorista: "Não sei a qual se refere, mas passa nas duas. Passo primeiro pela do A.Cego e termino nas Amoreiras..."
Passageira: «Exactamente é essa mesmo». (qual delas?)
A senhora em questão coloca os sacos de papel cuidadosamente sobre o primeiro banco disponível e permanece de pé junto á porta da frente.
Motorista: "Então e a senhora não vai querer sentar-se? É que ainda faltam umas paragens para lá chegar..."
Passageira: «Não posso, porque dói-me os ouvidos!»
Motorista: "Desculpe?!" (nem queria acreditar, mas antes que fosse atingido por uma gargalhada, que foi o que me deu vontade, lá perguntei de novo...)
Passageira: «É que está ali frio, por causa do ar condicionado e eu estou com dores nos ouvidos...»
Motorista: "Ahhhh, Então e se for apenas a ventilação, também faz mal? É que a senhora em pé não convém ir porque pode cair, já reparou..."
Resultado: Tive mesmo de desligar o AC, depois a ventilação e só assim se sentou. Parece insólito mas ás vezes acontece. «É mesmo difícil agradar a todos. Nem Deus agradou a todos quanto mais..», dizia um outro passageiro que assistia á conversa.
Amanhã há mais....
Boas Viagens!
Fotomontagem de Rafael Santos com foto de Pedro Almeida
Foto Ouvido: tudosobrepalntas.net
6 comentários:
Isto para se ser motorista na CARRIS, é necessário ter paciência de Santo.
Boa viagem!
Cumpts
APS
Era mesmo eu que ia desligar o ac para a senhora ficar bem.. Tiveste foi sorte de nao haver mais ninguem a queixar se, de que nao tinha AC e estava com calor..
A pergunta mais fixe que costumam fazer é se "para na próxima paragem?", diz lá que ainda não te fizeram esta pergunta!!
Rafael,esta utente faz-me lembrar uma canção cantada pelo Fernando Pereira(humurista)...por amar a Manuela! e não ser correspondido dei um tiro no ouvido e fiquei a ouvir melhor!....claro que não aconselho a sra a fazê-lo mas coitado do ar condicionado que é o causador de todas as adversidades !
Boas viagens ROGER
A carreira 718 usa as "fritadeiras", vulgarmente designadas quando o ar condicionado avaria. Eu fui num desses autocarros com o ar condicionado avariado, e quando bati no metal quase me queimei. Pena que foi na 718. Podia ter sido na cª 17.
Então na cª 718 com o ar condicionado avariado parece que vai "fritar" os passageiros de Chelas ás Amoreiras, passando por Saldanha e São Sebastião (junto ao El Corte Inglês) junto das cªs 742 e 746.
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