É daqui que saio com os eléctricos e é aqui que recolho com os eléctricos. Antes, depois e por vezes durante o serviço, passo por aqui. Passo aqui grande parte dos dias porque na verdade é este o meu local de trabalho. É esta a minha segunda casa e a de tantos outros guarda-freios e pessoal afecto à Unidade de Negócio do Modo Eléctrico da Carris - a Estação de Santo Amaro.
Do «americano», puxado por animais e introduzido na segunda metade do século XIX até aos modernos articulados que actualmente circulam na carreira 15E entre a Praça da Figueira e Algés, muito mudou nesta estação que outrora abrigou cabeças de gado e hoje vê uma mistura de gerações a cruzarem-se pelos corredores da mesma forma que os trolleys convivem com os pantógrafos.
Foi para lá destes portões que actualmente delimitam a estação, que depois de ter sido fundada no Brasil, a Carris se instalou em 1874, fazendo já hoje parte da história não só da Carris, mas também da própria cidade de Lisboa. Mas se noutros tempos, o movimento era abundante e sempre sob o olhar atento dos transeuntes que por ali passavam rumo a Belém ou Alcântara, hoje esse movimento é apenas mais acentuado nas saídas e recolhas e não se estranha portanto que sejam essas as alturas em que se concentram os olhares mais curiosos e aficionados deste transporte.
É também aqui que todos os carris com a sua bitola de 90 centímetros, das únicas da Europa vão dar, ao mesmo tempo que a rede aérea parece criar uma malha em direcção a vários pontos da cidade. E foi precisamente graças a esses carris e cabos da rede aérea que no dia 31 de Agosto de 1901, às 4h40 da manhã saiu o primeiro carro eléctrico de Lisboa, ainda com o dístico de «Experiência». Nos dias de hoje saem com bandeiras de M.Moniz, Algés, R.Alfândega, entre outras.
Uma estação que também ela conta a sua própria história com o Museu da Carris que ali se encontra instalado. Assim é a minha segunda casa que comporta o único «Car-Barn», termo inglês que designa estação de recolha de eléctricos que outrora foi celeiro das mulas que puxavam os «americanos». Hoje abrigam os eléctricos das chuvas.
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