Fazer a barba durante uma viagem de autocarro pode parecer irreal, e pouco higiénico, mas a verdade é que há quem o faça. Mas pior que isso é alguém fazer a barba a outra pessoa, com uma gillette, sem gel ou espuma de barbear e muito menos água. E tudo isto aconteceu durante uma viagem no 735 esta tarde quando me deslocava até Sapadores, a fim de apanhar o 28E com destino à Estrela onde iria render. Confesso que quando um colega que também seguia viagem naquele autocarro, me alertou nem queria acreditar. Mas um simples olhar sobre o lugar em questão, fez com que me apercebesse que a barba do senhor era feita com minúcia pela sua esposa, apesar da expressão sofredora do senhor, talvez pelo passar da lâmina no rosto.
Já no eléctrico 28E, onde foi o meu serviço este domingo, a manhã passou-se com grandes enchentes por parte dos turistas, o que já vem sendo hábito nos tempos que correm. Mas pior que as enchentes, porque essas acabam por trazer sempre alguma receita para a Carris, é ter alguns turistas que persistem em querer fazer de nós totós. Pois já foram algumas as vezes que também eu fui turista, e em todas passageiro e utilizador dos transportes públicos para me deslocar e conhecer as cidades em que já estive. No entanto, sempre que chegava a um terminal, levantava-me e seguia o meu caminho, nem que esse fosse até à paragem para voltar a entrar no transporte.
Mas ao que parece por cá e para os nossos turistas tudo é diferente neste pedaço de terra à beira-mar plantado na extremidade da Europa. Chego aos Prazeres e perante toda a calma dos que permaneciam sentados, alertei: «Fim da viagem! Terminus! Finish! Capolinea! C'est fini!»
E todos se riam às gargalhadas permanecendo sentados. Solicito que saiam até porque já estavam a atrasar a partida e a entrada dos que já aguardavam na paragem pelo 28E. Mas a risota continuava até que a minha paciência esgotou após uma manhã onde a cada terminal esta situação se repete, e disse: «FINISH! Get out please. Not yet understood? I do not have to wait more time please...»
De repente todos passam da gargalhada ao descontentamento até que um grupo de espanhóis, de forma revoltada diz-me que sou parecido com o Mourinho. «Eres como Mourinho! Estamos en Portugal, estamos en el país de José Mourinho! Qué indignación tener que abandonar el tranvía y volver a entrar» Não respondi porque iria dar demasiada importância a quem não tinha o mínimo de razões para reclamar o que fosse, porque afinal estava no terminal. Escusado será dizer que tiveram de pagar novo bilhete para voltar ao Chiado, e por se saber ficou o porquê de me terem comparado ao José Mourinho. Terá sido pela eficiência e rapidez com que uma simples frase fez toda a gente levantar-se e sair, ou pela forma determinada com que foi expressa essa frase?
5 comentários:
O senhor em questão talvez quisesse experimentar novas lâminas para ver se resultavam a seco ,assim poupa na água e na espuma .Como o ditado ainda se mantém :de Espanha nem bom vento nem bom casamento ,e já agora devem ser de Barcelona !ainda pensam e se calhar alguns têm razão que somos o povo que ainda vive na era salazarista,ignorante,analfabeto,fechado no seu quintal.Enfim,seremos sempre o povo acolhedor ,tolerante,humilde.
Olá Rafael, fiquei abismada! Fazerem a barba num autocarro? E não houve ninguém que lhes tirasse uma foto?
Acho que agiste muito bem com esses turistas. Não acredito que façam o mesmo no país deles. Os espanhois, mais os catalães, detestam o Mourinho. Dizem que é arrogante e convencido.
Beijinhos
Flor
Fez muito bem Rafael... lá fora não têm nem metade da paciência (e já agora simpatia) que nós temos para com os turistas. Já agora, por curiosidade, quais são os turistas mais "bem comportados"? Os nórdicos?
Cumprimentos
Chamá-lo de José Mourinho foi demais! Essa é boa. Quer dizer que agora pensa-se tudo em termos futebolísticos, definitivamente...
Abraços do Brasil!
é injusto teres a fama e não o proveito! olha se ganhasses como ele!
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