Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
De facto, quando já grande parte dos tripulantes da Carris, aguardava ansiosamente pelo mês de Agosto, uns para irem de férias, outros para poderem circular mais calmamente na cidade, eis que surgem mais obras no centro da cidade de Lisboa, para mudarem-se as vontades. As filas provam que muitas mudanças ocorreram nas férias dos portugueses que este ano ficaram por cá. O resultado só podia ser um. Filas intermináveis, autocarros e eléctricos cheios e um esgotar da paciência, não só pelo congestionamento, mas também pela falta de paciência das pessoas que entram a barafustar por tudo e por nada.
Na carreira 25E o dia de hoje começava com um português a perguntar-me num profundo sotaque francês para onde ia o eléctrico. Acho muito interessante não só este senhor em questão, como grande parte dos turistas perguntarem para onde vai o eléctrico. Na verdade, o destino está bem explícito na bandeira de destino, mas mesmo que leiam a maioria não sabe onde fica os Prazeres ou a R.Alfândega, e claro que depois de uma resposta minha dizendo o destino surge logo a contra-pergunta «mas onde é isso?»
Lá expliquei através do mapa afixado na paragem, mas até acredito que o senhor em questão, tenha ficado sem saber afinal onde era os Prazeres. Na verdade ele procurava um eléctrico para Almáfa. Disse-lhe que não conhecia tal rua ou local e perguntei se não seria Almada, mas ele insistia comigo que era Almáfa. Como não quis ser mais teimoso que o senhor, pedi então desculpas, dizendo que só conhecia Almada. Iniciei então a viagem, mas como o trânsito era intenso, à saída da raquete da R.Alfândega lá surge de novo o senhor. «Desculpe mas disserram-me que parra Almáfa era o 28. Este não é o 28?...». Percebi então finalmente que o que ele queria era ir para Alfama e lá lhe indiquei o caminho até ao 28E.
Mas o dia de hoje na 25E não se ficaria pelo português de Almáfa. Em Santos e com destino à Estrela, entra um individuo que por sinal, já o tenho transportado algumas vezes e sempre na carreira 25E. Aparentemente com alguma perturbação mental, entra cumprimentando-me como colega, mas aquela cara além de muito mais velha que eu, não me faz recordar nem colegas de escola quanto mais da Carris. Digamos que é um dos tais tipos de passe para se transportar. Se em viagens anteriores tinha causado alguma confusão junto dos restantes passageiros, hoje, decidi ficar atento ao indivíduo para que todos pudessem ter uma viagem tranquila.
Aparentemente viajava calmo, com o seu jornal dobrado, livro, charuto - que deve ser sempre o mesmo e apenas para o estilo - e um perfume daquele tipo patchouli. De vez em quando lá dizia algo sem sentido, até que numa paragem na Garcia de Horta, dois turistas decidem sair e ele decide pregar uma rasteira. Os turistas atentos, aperceberam-se de imediato que não valia sequer arranjar problemas e seguiram caminho. Mas como malucos há muitos, já na paragem da Rua de São Domingos, à Lapa, um senhor com idade perto dos 65/70 anos, vai para sair, mas ao ver que o tal indivíduo ia também abandonar o veículo, decide dar a vez para a saída. O tal indivíduo a que todos chamam maluco, soltou um berro ao senhor que também ia sair dizendo: «Sai lá pá!»
Mas desta vez teve azar, ou saiu-lhe o prémio ao qual há muito se candidatava. O senhor não pensou duas vezes e ao mesmo tempo que dizia «mas tas a falar com quem pá?», fechou o punho, e deu-lhe um valente "selo" e com "carimbo", como se pôde depois comprovar com o sangue que escorria do nariz já do lado de fora do eléctrico, do tal maluco que desta vez apanhou um ainda mais maluco que ele e sem meias palavras, talvez inspirado no antigo seleccionador nacional Scolari. Limitando-se a assoar o sangue e de cabeça para o ar lá subiu o resto da rua, enquanto que o outro senhor se tornou o herói da tarde na 25E. Quem se transportava aplaudia a perspicácia do punho de 65/70 anos dizendo que «há muito que ele já estava a precisar de levar uma valente», enquanto que outros diziam pela janela «Bem feito!», tinha-se encontrado um herói na carreira 25E. O eléctrico seguiu então a sua viagem com aquele soco como tema de conversa, e sem reacção nenhuma de quem levou um selo que deve ter permitido viajar até ao outro lado do mundo, e até ver estrelas, sem chegar ao largo da Estrela.
E como se não bastasse toda esta situação, estava ainda para vir na viagem da recolha uma senhora com alguma idade, mas de língua bem afiada, que dizia perante o espanto de quem era surpreendido com o preço da tarifa de bordo (2.85€), que a razão era os guarda-freios ganharem mais que os motoristas, porque ela sabia bem do que falava, dizia. Confesso que esta nunca tinha ouvido. Mas como hoje parece que tinha saído na rifa, lá tive de gramar aquela conversa do bilhete, dos passes, dos cortes e até das reclamações feitas nas relações públicas da Carris, até Alcântara, onde a senhora abandonou o eléctrico, depois de ter propagandeado que «já nem prémios tínhamos por serem ruíns», e que já foi «a Miraflores de propósito às relações públicas, falar por causa dos cortes de Março que é uma vergonha», e ainda «que fazem o que querem e cada vez pagamos mais», não esquecendo que «eles ganham bem e vieram para a Carris porque não quiseram estudar, pois nem precisam de carta que a Carris dá-lhes».
Na verdade esta senhora não merecia mesmo resposta nem tão pouco conversa, porque além de estar bastante desactualizada, parecia mesmo ter alguma inveja de não trabalhar na Carris, apesar de nem um terço da propaganda que fez ser verdade, mas contive-me nas palavras, até porque já era a última viagem e não me apetecia mesmo nada indicar-lhe como havia de fazer para se candidatar a tripulante desta grande casa que é a Carris, como dizia o outro.
[n.d.r.]: Imagens de Arquivo
4 comentários:
Irra! eu pensava que só o português era BURRO!mas afinal não me enganei muito .Mesmo que haja informação do tamanho do eléctrico,mesmo que as informações estejam desactualizadas ....estão lá afixadas.Pode ser que o selo sirva para despachar mais depressa para longe determinadas atitudes.E quando se ouve determinadas conversas que além de estarem erradas,ainda se deturpam ainda mais com um toque especial ,mostrando que a inteligência também faz parte do povo.
Grande Rafael... é assim mesmo... Faz favor de preparar o segundo Livro... Fico à espera... ok? Um abraço
Uma pessoa sai do eléctrico e há logo espectáculo, enfim...
Abraço.
QUEREMOS UM FILME!
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