sábado, 11 de agosto de 2012

O antagonismo a bordo da 28E

Como era de esperar este verão prometia grande procura pelos eléctricos lisboetas, por parte de quem nos visita, não só porque Lisboa ainda é um destino barato para os estrangeiros, mas porque está também no top de alguns guias turísticos. Contudo, e talvez esquecendo esse facto, a imposição da Troika para a redução da oferta nos transportes públicos, tem originado aquilo a que se poderá chamar um verdadeiro caos nas paragens das carreiras mais turísticas. A imagem que fica para quem nos visita não será certamente a melhor, mas tudo vale para dar uma volta no eléctrico que do Martim Moniz, vai à Graça, passando pelo Castelo, Alfama, Chiado e Estrela, terminando uns metros mais à frente junto ao cemitério dos Prazeres.

Se a fila surpreende os turistas mais afoites, mais surpreendido fica quando chegam aos Prazeres e têm de sair. É assim, sempre foi e sempre será até ao dia em que os nossos eléctricos avisem através de um sistema auditivo que aquela paragem é terminal, porque todos pensam o mesmo, ou seja, que a volta é circular ou que o bilhete é válido para continuar e como tal não têm de sair. Mas confusões à parte, o certo é que quem por cá está todo o ano e a servir-se das nossas casinhas amarelas, acaba por sofrer nestes meses de verão.

Surpreendido com o destino do eléctrico que seguia na minha frente (L.Camões), um senhor que de forma bastante educada me saudou ao entrar na paragem do Chiado, pede-me para fazer uma pergunta à qual de imediato me mostro disponível para responder, se assim fosse capaz. «Sabe-me dizer o porquê  de um carro vir do Martim Moniz com bandeiras de Camões? Não lhe parece antagónico?», questionava-me. Tentei explicar-lhe que dada a procura fora do normal na paragem do Martim Moniz, aquele eléctrico era uma chapa que fazia viagens entre a Estrela e a Graça, tendo sido desviada para o Martim Moniz para ajudar a escoar as pessoas.

Mas o senhor não parecia aceitar a justificação e dizia-me «mas isso é de um antagonismo estremo. Então e as pessoas que vão para os Prazeres?», e lá lhe disse que não deixava de ter razão, mas que a maioria das pessoas queriam ir para o ponto mais turístico da cidade, o Castelo de São Jorge. E da mesma forma educada com que tinha entrado, acrescentava... «sabe, isto tem muito que se lhe diga. Agora ele fica no Camões e vai reparar que as pessoas saem daquele eléctrico e entram para o seu. É uma questão muito antagónica». Não sei se será a palavra preferida daquele senhor, ou se era a sua forma morfológica que o fazia usar insistentemente tal palavra que voltaria a repetir minutos depois... «e mais antagónico ainda é todos se queixarem da crise e nestas alturas em que podemos recuperar um pouco, retiram transportes, deixando de gerar receitas, mas também lhe digo, estamos tramados com isto tudo e quem se trama é o mexilhão...» e com tanto antagonismo num instante chegámos a Campo de Ourique, não tendo o senhor pensado mais no tempo que havia esperado pelo eléctrico.

«Olhe então se não se importa eu saio nessa paragem ai à frente e só não lhe convido para ir ali ao café porque se não estes 50 tipos davam cabo de nós.», e lá seguia o senhor em direcção ao Canas, com cabelo puxado atrás, de camisa às riscas, com o seu blazer acompanhado de um lenço na lapela, apesar do calor que se fazia sentir.

Sem dúvida uma tarde algo antagónica na mais emblemática das carreiras de eléctricos, diria mesmo, do Mundo.

1 comentário:

CR 35 disse...

Todos vêm o problema ,falta de mais eléctricos,mas esquecem-se de vários factores que em conjunto geram estes pequenos problemas.Se o eléctrico fosse declarado património mundial ficava mais fácil o investimento em mais alguns, seria também viável aproveitar determinadas ruas apertadas para fazerem mais uma linha só para eles e para aproveitamento turístico ,pondo a indústria portuguesa a laborar pelo menos durante um ano a fabricar estes amarelinhos artesanalmente.Roda que roda e torna a rodar....!

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