Setembro é por si só, o mês em que habitualmente a confusão regressa à cidade. Marca o fim das férias e o regresso ao trabalho. A acalmia dá lugar à azáfama e quando a juntar a estes factos surgem situações que acabam por impedir a circulação dos transportes, então o caos instala-se. Assim foi nesta manhã de terça-feira. Mas os males de uns chegam por bem a outros e se um incêndio num prédio devoluto, acaba por dar algum trabalho a bombeiros, por causar sustos à população vizinha, dá também descanso a outros. Longe da confusão instalada na carreira 28E, um dos eléctricos ali ficou impedido de circular. Os outros foram desviados a tempo.
O fogo deflagrou ainda de madrugada e quando me deslocava para o local de rendição, já tinha dado de caras com o panorama ainda que da parte de cima da Rua Angelina Vidal. Não avistava eléctricos no local, pelo que calculei que estariam a dar a volta na Graça e assim foi. Dirigi-me então até lá e de lá segui até à Estrela, mas na chegada ao local ainda a tempo de ir beber um café para poder enfrentar as 8 horas de serviço na carreira 28E, uma chamada da Expedição, informava-me que a minha chapa estava retida no local do incêndio, pelo que teria de ir até lá para render o colega. Afinal o eléctrico estava na parte de baixo do local do incêndio e lá tive de voltar para trás.
Quando voltei, os homens que dão nome ao largo dos Sapadores, estavam já no rescaldo do incêndio que tinha atingido dois prédios devolutos. Pensei que seria coisa para mais 20 minutos, mas o certo é que fiquei lá mais 2 horas porque faltava ser reestabelecida a corrente eléctrica que havia sido cortada para o trabalho mais seguro dos bombeiros. De uma das janelas uma senhora perguntava se precisava de uma garrafinha de água fresca, até porque o calor apertava e tive portanto uma manhã calma, o que acabou por não se repetir da parte da tarde.
Tudo normalizado, mas com a constante procura por parte dos turistas, o eléctrico lá andou cheio da Graça para a Estrela e da Estrela para o Martim Moniz. E aconteceu de tudo. A manifestação dos produtores de leite na Assembleia da República, originou alguns atrasos na zona envolvente e porque não há uma sem duas nem duas sem três, ainda teria mais à frente uma situação que acabou por se resolver sem ser necessária a presença das autoridades, para colocar a ordem que há muito falta nos transportes públicos, nomeadamente na carreira 28E.
A tarde não estava portanto a correr da melhor maneira e para não se fugir à regra, lá entrava uma passageira pronta para desconversar com o guarda-freio, porque na verdade o seu dia de trabalho não lhe deve ter corrido muito bem, porque quando entrou, as primeiras palavras que teve foram «mas esta palhaçada continua a andar sempre atrasada? Há 1 hora que aqui estou à espera vizinho!»
Como nunca me cruzei no meu prédio com tal senhora, inicialmente nem respondi, pois calculei que não fosse comigo, mas calculei mal. Calculei eu e ela, porque quando vinha dos Prazeres, tinha visto um eléctrico a sair da Estrela, pelo que seria impossível estar ali na paragem do Largo Dr. António de Sousa Macedo há uma hora. E só se calou graças a um casal de turistas que me questionava qual seria a melhor paragem para a Igreja do Carmo.
E o dia só não terminou da pior maneira porque na última viagem lá entraram duas jovens na paragem da Calçada da Estrela em que uma delas me pergunta se podia fazer uma pergunta ao mesmo tempo que se ria, fazendo prever que dali não vinha coisa boa. Se a amiga falava inglês, ela parecia ser do norte e quando lhe digo que pergunte à vontade, tenta segurar o sorriso e pergunta-me se «será possível transportar uma cama aqui?»
O sorriso foi contagiante não só ao guarda-freio, como ao senhor que viajava à esquerda junto à janela. Expliquei-lhe que a lotação por norma ia sempre lotada, pelo que mesmo havendo alguma boa vontade, seria impossível por falta de espaço, ao mesmo tempo que lhe explicava que um transporte de passageiros tinha algumas diferenças quanto ao transporte de mercadorias...
Mas ela continuava a rir-se e a justificar. «É que temos de mudar de apartamento do Martim Moniz para Santos, e a cama é daquelas que se dobram e que têm rodinhas, sabe?...» Enquanto eu esclarecia que o 28E nem em Santos passava, pelo que o melhor seria o 760, tendo de pedir autorização ao motorista em questão. E quando o riso tinha abrandado, ela remata a conversa da seguinte forma... «é que pensava ser mais rápido trazer a cama no teleférico, por isso lhe perguntei...»
-Teleférico?, perguntei ao mesmo tempo que ela lançava gargalhadas. «Ai desculpe, do eléctrico, troco sempre o nome a isto...», dizia. O certo é que parece ter ficado elucidada que não iria ter tarefa fácil na referida deslocação da cama e lá seguiu viagem com a amiga talvez já a estudarem como iriam fazer a mudança. Saíram na Baixa e quando estava já eu no Martim Moniz, lá vinham elas. E ao verem-me ali começaram novamente a rir e agora em jeito de brincadeira lá me disseram que «ainda nos vai ver hoje com a cama num autocarro perto de si».
O certo é que não vi e nem sei se terão conseguido fazer chegar a cama a bom porto, mas que fiquei curioso fiquei...
1 comentário:
Com a benesse da Carris em deixar transportar bicicletas dobráveis ,eu bem tenho razão quando comentei que,qualquer dia os autocarros ficam mais baratos que as empresas de mudanças .....camas ? mas têm rodas e também é dobrável.Enfim vai começar a bandalheira espero que nenhum passageiro se lembre de comprar um frigorífico ou máquina de lavar roupa e utlilize os autocarros e eléctricos como empresa de mudanças ,1,75€...é barato.
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