Chuva de manhã, sol pela tarde. Assim foi o dia de hoje em Lisboa, onde já não se nota sequer que o verão acabou. Milhares de turistas percorrem as ruas e enchem os eléctricos e se a estes juntar-mos a quantidade de pessoas que se viram nos últimos tempos, obrigados a deixar o carro à porta e irem de transportes para o trabalho e escolas, o caos é ainda maior. Sobretudo porque também os transportes foram alvos de cortes e são cada vez menos os autocarros e eléctricos a circular. Uma bola de neve que não deixa ninguém de bom humor.
Também de mau humor estava eu logo pela manhã porque enfrentar um horário de 8h45 de condução com 2h00 de almoço, é no mínimo aquilo a que na escola se chamaria um verdadeiro castigo. Na verdade ninguém merece tamanha carga horária e de castigo devia ficar quem fez tal horário, nomeadamente numa carreira tão trabalhosa e desgastante como a 28E, com o seu percurso sinuoso, trânsito, turistas, perguntas de toda a espécie e até amigos do alheio. Posso desde já adiantar que após este dia de trabalho, parece mesmo que já trabalhei uma semana inteira. Mas deixemos de lamentações...
Pela manhã, no Martim Moniz a fila já era grande e pelo meio, numa língua estranha a arranhar no inglês, um grupo de 4 amigas/os pedem-me um bilhete um por um. Para facilitar os trocos perguntei se podia pagar os 4 juntos e depois fariam contas entre eles, mas eles mostraram-se pouco receptivos à minha sugestão, já para não dizer que ficaram bastante desconfiados. Uma das raparigas fica ao meu lado esquerdo de máquina fotográfica pronta a disparar a cada esquina. Os restantes procuram de imediato um lugar para se sentarem, mas pelo meio já eram duas ao meu lado com a segunda a querer fazer concorrência à primeira com o seu Iphone.
A certa altura e depois de muitos clicks, perguntam-me se ia para o jardim. Calculando que fosse o da Estrela, disse-lhes que sim. Atrás dessa pergunta vieram outras, até que acabaram por me dizer que estavam encantadas com Lisboa. Vinham de Istambul, na Turquia e queriam levar muitas fotos para aconselharem mais amigos a virem até cá. No final, acabaram por sair nos Prazeres e fizeram questão de tirarem os 4 uma fotografia comigo para mais tarde recordar.
Mas se até aqui a paciência ainda ia sendo compensada com a boa disposição dos turistas e troca de ideias sobre a cidade, já da parte da tarde e com o cansaço a apoderar-se da minha paciência perante a algazarra que os putos fazem quando saem das escolas, eis que na paragem do Canas, com destino ao Martim Moniz, um senhor com alguma idade e dificuldade na sua locução, pergunta-me se poderia pedir-me um favor. Queria que lhe alterasse o toque do telemóvel, mas apesar da vontade em ajudá-lo, o facto de não conhecer o menu do telemóvel, poderia levar algum tempo até que chegasse ao pretendido, o que não era viável sobretudo para quem estava a conduzir. Disse-lhe portanto que não poderia ajudá-lo.
Entretanto o semáforo tinha acabado de mudar para o verde, e uma senhora talvez incomodada por não lhe dar a atenção que estava a dar ao senhor idoso, ou talvez zangada com o patrão porque o dia não lhe terá corrido bem, também quis ela, não mudar o toque, mas dar o toque aqui ao senhor guarda-freio... «Está verde! Avance se faz favor...» Confesso que é das piores coisas que me podem fazer. Pois se eu não em meto no trabalho de ninguém porque é que se querem meter no meu? Olhei sobre o espelho e vi que não estava com cara de muitos amigos para comigo. Mas como por esta altura a paciência já estava esgotada depois de tanta hora, lá lhe perguntei se pretendia trocar de posição comigo, passando ela a levar o eléctrico. Lá me disse que «era bom, para ver se não perdia o 713...»
Do meio do eléctrico, alguém incrédulo com a situação diz-lhe de imediato «vai a pé ou vem mais cedo para a próxima pá. O sinal ainda agora abriu...» E o rosto da senhora corria todas as cores do arco-íris, porque tinha acabado de perder uma oportunidade para ter ficado calada, até porque não teve por exemplo tanta pressa em validar o título de transporte ou de chegar à porta da traseira para sair na paragem pretendida a poucos metros à frente.
Na verdade o que acho mesmo é que muita gente adorava conduzir um eléctrico ou um autocarro, porque esta situação, fez-me também lembrar situações idênticas que vivi antes da minha mudança para Santo Amaro, quando quem ia sentado no primeiro lugar dava toques com os pés, mal o sinal mudava para o verde, como se estivessem a acelerar o carro. Um stress que é cada vez maior, porque as pessoas acabam por estar cada vez mais impacientes, para com as viagens após os tempos de espera também eles serem maiores e depois tudo recai naturalmente sobre o tripulante que é, digamos assim, o "pai da criança".
2 comentários:
Eu desde puto que adorava conduzir um eléctrico, tantas vezes fiz a viagem de pé ao lado esquerdo do guarda freio no 25 e no 28, a observar todos os movimentos que já tenho a teoria toda.
Se está verde....o melhor era deixar amadurecer!Boas viagens a bordo da CCFL
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