sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Com 2.25€ não dá para ir...

Um regresso à 25E sem nada para contar seria algo inédito neste blogue. Pois pelos lados da Madragoa podem passar dias, meses e até anos que há sempre algo que acaba por caracterizar a carreira 25E, uma carreira que se ama ou que se odeia. Eu estou prestes a atingir a segunda hipótese e já não é apenas pelo caos da Rua de São Paulo com o constante pára-arranca.

Se o dia não está muito soalheiro, também os passageiros da carreira não estão de bom humor e como por estes lados apesar de já aparecerem alguns turistas, eles ainda estão em número reduzido, acabamos por transportar mais o típico lisboeta que acaba de sair de casa mal disposto porque tem de ir trabalhar, ou o que vem mal disposto porque o dia no trabalho não lhe correu bem. Tudo isto se torna pior se tiverem de comprar bilhete e não terem dinheiro que chegue, ou se começar a chover e o eléctrico tardar em aparecer. 

Não queira portanto o caro leitor imaginar, se depois de algum tempo de espera o eléctrico trouxer bandeiras de "Estrela". Não cai o Carmo nem a Trindade porque esses ficam mais para os lados do 28E, mas é certamente necessária paciência de Santos porque os passageiros acabam por pensar sempre que a culpa é do tripulante. 

A hora de ponta da tarde na 25E assemelha-se a qualquer hora do dia na 28E com os eléctricos cheios e quem está do lado de fora sempre vai incentivando os que já lá estão dentro... «cheguem um bocadinho atrás nem que tenham de ir ao colo, é que estamos à chuva!»

Já no sentido inverso o destaque basta ser dado a uma das viagens onde na Rua de São Paulo, entra um jovem de fato e gravata tendo-me solicitado um bilhete. 

- «São 2.85€ se faz favor...», disse-lhe. Ele entrega-me 2€ e eu volto a repetir ao mesmo tempo que aponto para o autocolante com o preço da tarifa de bordo... «São 2.85€...E não sei se reparou, mas este termina na Estrela, serve?» De imediato responde: "Sim reparei e serve perfeitamente, obrigado" (pausa) " 2.85€? Epá... Agora é que não estava à espera, deixe-me ver aqui neste bolso..."

Já outros bufavam com o tempo de espera quando ele me questiona, "tenho só 2.25€, não dá não é?" Não sei se a matemática do senhor será diferente da minha, mas esperei para ver se estava mesmo a falar a sério. Até que lhe tive de dizer «O bilhete é 2.85€...» e ele insistia... "mas só tenho 2.25€, dá para ir?" Obviamente que tive de o esclarecer de uma vez por todas porque já era tempo perdido a mais naquela conversa... «O bilhete custa 2.85€ e se você só tem 2.25€ parece-me que há uma ligeira diferença, a suficiente para não dar para ir...» E lá seguiu a pé.

Na mesma viagem, mas já na Rua de São Domingos, uma senhora não deixa sequer a porta acabar de abrir para dar origem a um diálogo tipo de cliente daquele bairro da Lapa...

Passageira: "Não há eléctricos para os Prazeres?" 
Tripulante: «Sim há, mas este vai só até à Estrela».
Passageira: "Estou aqui há tanto tempo e só vai até à Estrela! A Carreira é para os Prazeres."
Tripulante: «Pois, mas as ordens que tenho são para terminar viagem na Estrela, precisamente pelo facto de estar atrasado»
Passageira: "Mas a carreira é para os Prazeres, já lhe disse!"
Tripulante: «Mas terá então de dizer à companhia e não a mim, porque eu cumpro ordens apenas.»
Passageira: "Mas a única pessoa da companhia que conheço é você...É a si que tenho de dizer."

E entretanto chegava finalmente à Estrela. Fim da viagem... fim do diálogo. Na viagem seguinte chegava também o fim da semana de trabalho já com bastante chuva e com o fim-de-semana à porta!
 

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