segunda-feira, 5 de setembro de 2022

[Off Topic]: Quando o SII entra a bordo, o destino é a... WC

Como sabem, este blogue tem como objectivo desde o primeiro dia, relatar o dia-a-dia de um tripulante no exercício das suas funções na cidade de Lisboa. Situações com os passageiros, com os outros intervenientes da via, mas também relatar factos e pontos da história do que está relacionado com estes meios de transporte que conduzo e com a empresa que orgulhosamente represento. Mas por vezes também aqui passam temas diversos e sugestões à boleia do transporte público, mas hoje venho partilhar convosco também um dos problemas com que nos deparamos no exercício da função, problema esse que se agrava, sobretudo se tivermos problemas de saúde crónicos ou simplesmente síndromes, como o que vou falar de seguida. O Síndrome do Intestino Irritável.

Foi-me diagnosticado há cerca de 3 ou 4 anos atrás e está relacionado com o sistema nervoso central. É uma doença funcional que causa sintomas, como dor na barriga, excesso de gases, prisão de ventre e diarreia, e que podem piorar com situações como o stress, ansiedade e o consumo de alguns alimentos e bebidas.

Após medicação para controlar e dieta própria para o efeito, consegui detectar os alimentos aos quais sou intolerante, o que fez com que de há dois anos a esta parte tenha tido a minha síndrome mais ou menos estabilizada. No entanto, o stress e a ansiedade acabam por vezes por nos pregar partidas e despoletar uma crise de intestinos daquelas que quase vimos a morte à frente literalmente. 

Trabalhar portanto num local onde não temos uma casa de banho à disposição pode tornar-se de imediato uma enorme dor de cabeça, de barriga, de tudo. Sim não temos casas de banho em todos os terminais, embora muita gente possa pensar que sim. Esta semana, tive como há mais de sete meses não tinha, uma dessas crises. Saí bem de casa, e a caminho do trabalho umas enormes cólicas, levaram-me a procurar uma casa de banho antes de render o colega para mais um dia de trabalho no 28. 

Aliviado, pensava eu, rendi e lá segui rumo ao Martim Moniz, após muitos suores frios e enorme desconforto abdominal. Mas a viagem estava destinada a correr mal. A meio do percurso e com o carro cheio de turistas, novas cólicas e suores. A casa de banho distava a 30 minutos... Na frente seguia um eléctrico a uma velocidade demasiado lenta. Os clientes perguntavam tudo e mais alguma coisa, os semáforos fechavam, os tvde's paravam na frente e havia em todas as paragens passageiros para entrar ou sair. 

O desespero, a impaciência apoderam-se e a aflição aumenta. Cheguei finalmente ao Martim Moniz e só tive tempo para avisar a central e a expedição, de que não me estava a sentir bem, e correr para o Hotel Mundial, onde gentilmente me cederam o acesso à casa de banho. 

Dizem-me por vezes... "Mas com esse problema diagnosticado como é que consegues trabalhar neste trabalho onde não tens casa de banho sempre que precisas?" A resposta é simples. Porque o que tenho é um síndrome e não uma doença, como tal... quem a tem que se desenrasque.

Trabalhar numa carreira como a 28E nos tempos que correm, numa época pós-pandemia, é tudo menos benéfico para quem tem este tipo de problema. O Stress provocado pelos turistas que querem entrar e não sair, pelos horários curtos, pelo trânsito selvagem que se vê pela cidade, por tudo e mais alguma coisa, nas 4 semanas seguidas que tenho serviço nesta carreira é o rastilho fácil para as crises.

Mas no final de contas, este é o meu trabalho e este é um problema de saúde que também é meu, mas que não podia deixar de partilhar para dar a conhecer mais uma vez que este é um síndrome que não tem cura, mas para o qual devia haver uma atenção mais redobrada por parte do sistema de saúde e direitos dos seus portadores, e porque quem está a comandar o autocarro ou o eléctrico é também um ser humano, o que muitas vezes é esquecido por quem transportamos. 

Por vezes dizem que estou com mau humor, ou mal disposto, mas acreditem que não. Apenas estou sem paciência porque este síndrome consome-nos muito. E posto isto, espera-me mais um dia de trabalho na esperança que tudo corra bem e que caso seja preciso, encontre rapidamente uma casa de banho :) 

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